Trigo no sistema produtivo: vantagens para o solo e ganhos de produtividade da soja
O sistema produtivo moderno, com sua busca constante por performance, tem revelado déficits nutricionais em diversas regiões agrícolas. Giovani Facco, doutor em agronomia e especialista em experimentação agrícola, aponta um desafio: uma pesquisa da Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL) indicou que cerca de 60% das áreas agrícolas do Rio Grande do Sul apresentam níveis médios, baixos ou muito baixos de potássio, um macronutriente essencial.
Nesse contexto, a chave para a alta performance é buscar um sistema produtivo equilibrado, que potencialize os aspectos químicos, físicos e biológicos do solo. E, como afirma Facco, esse equilíbrio exige o cultivo de diferentes culturas que explorem o solo de formas distintas, ciclando nutrientes e fornecendo matéria orgânica através da palhada.
Sobretudo na Região Sul do Brasil, o trigo no sistema produtivo da soja se destaca, gerando importantes benefícios para a cultivar subsequente.
Benefícios Estratégicos do Trigo para a Soja
Os principais benefícios gerados pela cultura do trigo no sistema são vastos e vão além do retorno financeiro do inverno: conservação do solo, melhoria na ciclagem de nutrientes e uma sinergia na rotação Trigo-Soja que resulta em ganhos de produtividade.
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Conservação do Solo e Palhada de Trigo
A palhada de trigo, reconhecida por sua qualidade e volume, é essencial na conservação do solo. Ela protege a área contra a erosão e a perda de nutrientes por lixiviação. “Esse é um grande mérito da cultura do trigo, que recobre o solo, protegendo-o do excesso de chuvas e do impacto causado pelas gotas de água”, indica Facco.
Além da proteção física, o trigo auxilia na manutenção da temperatura e umidade do solo: “A palhada de trigo cria uma camada isotérmica e protege o solo de temperaturas degradantes. Com uma temperatura mais amena, a microbiologia do solo é beneficiada”, acrescenta o especialista.
Manejo Otimizado de Plantas Daninhas com Palhada
A palhada de trigo é uma ferramenta poderosa no manejo de plantas daninhas, pois sombreia o solo e limita o desenvolvimento de diversas espécies. “As sementes das plantas daninhas necessitam de água e luz para germinar. À medida que essas condições não estão presentes, devido à matéria orgânica que recobre o solo, a germinação de plantas daninhas é prejudicada. A ocorrência de buva, por exemplo, que foi um grande problema, agora está sendo reduzida”, aponta Facco.
O manejo da buva, uma das principais plantas daninhas da soja, é notoriamente facilitado. Pesquisas da Universidade de Passo Fundo (UPF) demonstraram uma redução drástica na ocorrência de buva: de 26,7 plantas/m² em áreas de pousio para apenas 3,4 plantas/m² quando o trigo antecedia a soja.
O Dr. em fitotecnia e professor da UPF, Mauro Rizzardi, complementa: “O trigo traz a necessidade de realizar um controle de plantas daninhas. Isso, por si só, já diminui toda e qualquer população de plantas daninhas para a cultivar de soja na sequência.”
Ciclagem de Nutrientes Essenciais e Adubação Residual
O trigo melhora as características físicas e químicas do solo. Seu sistema radicular volumoso, embora superficial, é altamente eficiente na ciclagem de nutrientes. “O trigo cicla potássio no sistema radicular altamente forte que está na primeira camada do solo. E essas raízes secundárias, extremamente finas, vão se decompor rapidamente dentro do sistema, liberando potássio para a soja”, cita Facco.
A soja se beneficia de forma direta não só do potássio, mas também do cálcio e do enxofre deixados pela palhada. Além disso, a alta demanda de fósforo do trigo (para produção) e sua baixa extração no grão permitem que a soja usufrua da adubação residual do nutriente no verão.
Facco explica a oportunidade estratégica: “O trigo traz uma grande oportunidade para adubar o sistema e fertilizar fósforo em menor espaçamento para que você consiga fazer a suplementação fosfatada de forma mais homogênea na sua área, considerando que o fósforo é basicamente imóvel no solo.”
Soja Mais Produtiva: Ganhos no Sistema Trigo-Soja
Os benefícios do trigo no inverno aumentam a produtividade da soja no verão. Giovani Facco informa que estudos sobre o tema apontam um saldo positivo significativo: “Diversos estudos sobre esse tema apontam um saldo positivo de 6 a 7 sacas por hectare de soja quando cultivada após o trigo. Em sistemas bem equilibrados, a soja acaba tendo um desempenho semelhante.”
Embora o ganho direto de sacas por hectare seja um excelente indicador, o maior benefício é o equilíbrio do sistema produtivo proporcionado pelo trigo ao longo dos anos, com sua decomposição de palhada, ciclagem de nutrientes, melhora da microbiologia e fixação de carbono pelo sistema radicular.
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Boas Práticas para Otimizar o Sistema Produtivo
Devido ao volume de palhada gerado, algumas ações são recomendadas para garantir o sucesso do plantio e o estabelecimento da soja:
• Dessecação Homogênea: A dessecação do trigo com glufosinato de amônio é indicada para uniformizar a maturação, facilitar a colheita e auxiliar no controle de plantas daninhas para a semeadura “no limpo” da soja.
• Distribuição da Palhada: A regulagem das colheitadeiras para uma distribuição homogênea da palhada é fundamental para garantir a cobertura uniforme do solo.
• Regulagem da Semeadora: Em casos de palhada elevada, o ajuste da semeadora para maior eficiência no corte da palha é crucial para o bom estabelecimento da soja.
O Sistema de Múltiplas Rendas
Para que o agricultor possa seguir buscando performance cada vez maior, é essencial adotar o olhar da propriedade rural como um sistema interligado. Para Facco, os sistemas produtivos de sucesso precisam estar ancorados em várias fontes de renda (termo permitido neste contexto, pois se refere à receita), e não somente na cultura de verão. O trigo cumpre esse papel estratégico, oferecendo estabilidade financeira no inverno e saúde estrutural para o pico de produtividade da soja.
