Fisiologia Vegetal
Professor da UPF, Geraldo Chavarria, explica o conceito e a importância do estudo para a agricultura
Uma planta é o resultado de uma complexidade fisiológica, onde todos os seus processos são vitais. Nutrição, fitormônios, fotossíntese, germinação, crescimento e fotoperiodismo são alguns dos objetos de estudo da Fisiologia Vegetal. Através deste estudo, é possível compreender o modo de vida da planta, que inclui aspectos essenciais para o seu desenvolvimento, atividades metabólicas, relações hídricas e nutrição mineral. Da germinação até a floração, quando algum desses fatores não regula bem, a planta não se desenvolve da melhor forma.
Em entrevista exclusiva para a DONMARIO, o Professor da Universidade de Passo Fundo (UPF) e pesquisador na área de Fisiologia Vegetal e Manejo de Soja, Geraldo Chavarria, ressalta sobre a importância de ter a percepção do funcionar da planta para obter altos rendimentos na produção de grãos. “A partir dessa ideia, eu posso posicionar a aplicação de um determinado fertilizante, determinar a quantidade, entender se essa planta tem uma limitação do ponto de vista hídrico, posicionar um fungicida, de forma que, além da função de controlar uma doença, ele não gere um estresse demasiado para a planta.”
Para a produtividade da safra, ter esse conhecimento alinhado às atividades na lavoura é benéfico durante todo ciclo. Segundo o professor, a partir dos sinais apresentados pela fisiologia da planta é possível prever crises e agregar técnicas. “Essas percepções, de determinados estágios do funcionar da planta, são cruciais para estabelecer estratégias de manejo, não só para a safra, mas também para entender as cultivares que estão no campo, e ir refinando o manejo”, reitera.
Quando buscamos identificar qualquer indício de uma planta não saudável, os principais aspectos a serem observados estão na sua fisiologia: a quantidade de água que ela possui, sua atividade fotossintética, o estresse oxidativo, e etc. Chavarria compara a planta a uma empresa. “Pensando na planta como uma empresa, ela tem um lucro bruto, que é a fotossíntese, e um custo para ela funcionar, que é a respiração. Então, existe uma série de estratégias, do ponto de vista de avaliações na pesquisa científica, para caracterizar se ela está fazendo bastante fotossíntese, se ela tem clorofila e se ela está recebendo luz a contento. São todos aspectos importantes nesse cenário.”
Das características visíveis que permitem a leitura da planta por parte do produtor ou agrônomo, a avaliação do seu crescimento é a principal. Quando excessivo, pode ocasionar na perda de capacidade de proteção, dificultando a chegada de produtos e luz em determinados pontos da planta. “Essas relações são importantes: avaliar o sistema radicial (se tem uma raiz desenvolvida), se há alguma limitação e avaliar o número de nódulos”, pontua Chavarria.
Ter este olhar apurado para os sinais do plantio permite, também, que sejam identificadas falhas nos processos. “Às vezes, o produtor tem um alto nível de fertilidade, trabalha com produtos biológicos, então, avança muito no estimular o crescimento dessa planta e, ao mesmo tempo, exagera na população, o que faz com que se perca as folhas do terço inferior de maneira muito precoce”. Geraldo Chavarria ainda lista pontos que devem ser avaliados a fim de reconhecer esses erros. “É preciso observar a condição ambiental do solo, se está muito frio ou com pouca água, se a qualidade fisiológica da semente é boa ou se a velocidade de semeadura foi muito alta.”
Já em condições ideais e com sementes de qualidade, no plantio de soja, por exemplo, entre 36 a 40h ocorre a protrusão da radícula, ainda na fase inicial. Após esse tempo, é necessário observar a cultura. “Se chegou nessa fase, perfeito. Existem lavouras pelo Brasil que demoram 3, 4, 5 dias. Às vezes, elas ficam 10 dias paradas nessa condição. Então, isso é sinônimo de perder o vigor. Aí eu já tenho um problema e percebo que, daqui para a frente, eu vou ter uma plântula menos vigorosa. Qualquer coisa que esteja mais atrasada do que isso é sinônimo de que alguma coisa deu errado. Logo, vou começar a avaliar se é preciso algum tipo de estímulo nessa planta”, afirma o professor.
A tecnologia também é uma grande aliada do produtor/agrônomo, fornecendo dados que orientam uma melhor tomada de decisão. Neste processo de observação da saúde da planta, o olhar do profissional não é substituído, porém a tecnologia agrega valor à prática. “Hoje em dia, a gente já consegue fazer diagnóstico de crescimento de plantas e temperatura foliar através de drones. A gente já cria relações, também, com imagens de satélite. Então, cada vez mais, estão presentes na vida do produtor e do técnico essas tecnologias e isso vem avançando”, reforça.
Este tipo de ferramenta promove informações que embasam o caminho certo a seguir na safra. A plataforma Manejo Certo da DONMARIO é um exemplo de tecnologia que fortalece e acelera a atuação no campo. Ela dispõe de funcionalidades que auxiliam a rotina de atividades do produtor e permitem o acompanhamento dos índices de vegetação associando os dados às melhores recomendações de manejo. Uma maneira eficiente de manter-se atualizado sobre tudo o que acontece com o plantio.
Ainda que os processos modernos estejam evoluindo no campo, o professor finaliza falando sobre a relevância de dar atenção aos pontos primordiais. “Um fator de grande relevância é pensar na agronomia básica. Pensar em respeitar épocas de semeadura, pensar em variar materiais de tal forma para diluir riscos do ponto de vista ambiental. Então, isso, que não é nada atual, mas sempre é atual: o fazer agronomia cuidando dos aspectos básicos”, conclui Geraldo Chavarria.
Fonte: Fisiologia vegetal: definições e conceitos / Luis Pedro Barrueto Cid e João Batista Teixeira — Brasília, DF : Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2017.