Tudo sobre qualidade fisiológica de sementes: germinação, vigor e longevidade

A qualidade fisiológica de sementes é um dos pilares fundamentais para a alta produtividade na lavoura. Isso porque, quando o assunto é produção agrícola, tudo começa com uma boa semente – veículo de tecnologia e genética, limpa e sem contaminantes, com alta sanidade e potencial de desempenho a campo.

Definimos qualidade de sementes como o somatório de atributos genéticos, físicos, sanitários e fisiológicos. E, dentro do atributo fisiológico, é na interação entre três componentes principais que se dá a expressão das funções vitais da semente: germinação, vigor e longevidade.

Embora conhecidas, essas funções nem sempre são bem compreendidas e, por estarem relacionadas, podem ser facilmente confundidas. Porém, cada uma delas desempenha um papel fundamental na avaliação do potencial de uma semente, influenciando desde a emergência inicial da plântula até a manutenção da viabilidade ao longo do tempo.

Entenda melhor todos esses conceitos em torno da qualidade fisiológica de sementes neste artigo, produzido pelas doutoras Samara Perissatto e Carolina Cardoso, da Cardoso & Perissatto – Assessoria e Capacitação Corporativa.

Germinação e seu papel na qualidade fisiológica de sementes

A germinação das sementes pode ser vista de duas perspectivas principais: a fisiológica e a agronômica. Fisiologicamente, a germinação consiste na reativação do metabolismo da semente, que resulta no crescimento do eixo embrionário (componente que concentra as estruturas que constituirão uma nova planta), levando ao rompimento do tegumento pela protrusão da raiz primária.

O critério agronômico vai adiante: inclui o desenvolvimento inicial da plântula, definindo a propriedade pela reativação do metabolismo de crescimento, que culmina no desenvolvimento do eixo embrionário até a formação de uma plântula normal (que contém todas as estruturas essenciais).

Apesar das diferentes perspectivas, todas corroboram que a germinação consiste na retomada do metabolismo, direcionado à promoção de uma série de reações que resultam no desenvolvimento do eixo embrionário para que este se torne uma plântula.

As plântulas normais apresentam a correta morfologia de suas estruturas, como, para a soja: presença de raiz primária e raízes secundárias, hipocótilo e plúmula. Essas estruturas correspondem, na planta adulta, às raízes, caule e folhas, respectivamente. As plântulas anormais apresentam defeito ou ausência de uma destas estruturas. A legislação brasileira exige que os lotes de sementes apresentem 80% de germinação, ou seja, que 80% das sementes do lote originem plântulas normais.

Para que a germinação ocorra, a semente precisa se hidratar em um volume equivalente a 50% de seu peso seco em água. Esse processo é chamado de embebição, caracterizado pela entrada de água na semente de forma passiva, devido à diferença de potencial hídrico entre a semente seca e o meio externo. Por ser um processo físico, até mesmo sementes não viáveis podem embeber e, por estarem inviáveis, não germinar.

Vigor

Sementes que apresentam germinação com alto desenvolvimento de plântulas normais não necessariamente são vigorosas. O vigor é a característica que determina a performance do desenvolvimento das sementes sob amplas condições ambientais, como temperatura, umidade, profundidade e outros estresses que adicionam um desafio à emergência da plântula em campo.

Sementes vigorosas se destacam pela germinação rápida e uniforme, resultando em plântulas com desenvolvimento homogêneo. Elas apresentam crescimento equilibrado, com estruturas bem formadas e maior acúmulo de massa seca, refletindo seu potencial para um estabelecimento mais eficiente no campo. Já sementes de baixo vigor podem levar a falhas no estande, desuniformidade e menor rendimento. O vigor é a estimativa do sucesso do estabelecimento da semente em campo.

É amplamente reconhecido o impacto direto que o vigor tem na produtividade. Muitos estudos comprovam um aumento superior a 10% na produção final de plantas originadas de sementes de alto vigor.

Por isso, é fundamental olhar além da germinação e buscar lotes de sementes vigorosas, que garantam que a porcentagem de plântulas normais dada pelo teste de germinação seja expressa mesmo em ampla variedade de ambientes, com uniformidade e estabelecimento de um estande de plantas com alto potencial produtivo.

Todavia, esse vigor pode ser perdido ao longo do tempo, entre a colheita das sementes e a próxima semeadura, pela deterioração. A deterioração das sementes é um processo irreversível de degradação que compromete sua germinação e vigor ao longo do tempo. Esse fenômeno ocorre devido a uma série de fatores fisiológicos, bioquímicos e ambientais que levam à perda progressiva da qualidade da semente, reduzindo sua capacidade de germinar e formar plântulas bem desenvolvidas. Quanto mais intensa a deterioração, mais rápida será a perda do vigor.

Mas a semente consegue se proteger disso. É a longevidade o atributo responsável pela manutenção e proteção desse vigor ao longo do tempo.

Longevidade

A longevidade de sementes é definida pela capacidade de as sementes permanecerem viáveis ao longo do armazenamento. É um atributo muito importante, pois é capaz de diminuir a intensidade e a velocidade da deterioração, protegendo a perda do vigor da semente ao longo do tempo.

Este atributo merece atenção, pois, assim como o vigor já foi confundido com a germinação, ainda há a confusão entre vigor e longevidade. A título de ilustração, é como se o vigor fosse a nossa saúde e a longevidade, nossa expectativa de vida. O vigor é a saúde da semente no momento. A longevidade adiciona o componente do tempo, direcionando como esse vigor será expresso em um momento futuro. Por isso, sementes vigorosas nem sempre serão longevas.

Como já mencionado, o grande desafio do vigor é a deterioração. A longevidade é a arma da semente para lutar contra essa deterioração e proteger o vigor. É como se sementes longevas estivessem mais armadas para enfrentar esse processo, permitindo assim que o vigor perdure por mais tempo.

Tais “armas” da semente consistem em mecanismos especiais para sua proteção contra a deterioração, como um conjunto de defesas antioxidantes, de reparo e de proteção. Essas defesas são acumuladas ainda no campo, durante a maturação, e sua manifestação ocorrerá ao longo do tempo de armazenamento. Sementes vigorosas e mais longevas são aquelas que irão expressar um bom vigor na emergência e no estabelecimento do estande.

Ainda há a percepção de que a longevidade se resume apenas a uma descrição de como a semente se comporta ao longo do tempo, sendo influenciada somente pela manutenção adequada do armazenamento.

Todavia, a longevidade é regulada intrinsecamente por fatores como:

• Aquisição dos mecanismos de proteção;
• Conjunto de antioxidantes;
• Presença e intensidade dos danos;
• Presença de clorofila;
• Estrutura do tegumento.

E também por fatores externos, como:

• Temperatura;
• Umidade relativa;
• Pressão de oxigênio;
• Atividade de patógenos, fungos e bactérias.

Além disso, cada cultivar possui uma arquitetura genética relacionada à longevidade, ou seja, mesmo cultivadas e armazenadas no mesmo ambiente, podem ter potenciais de longevidade diferentes.

Boas práticas para promover a longevidade e manter a qualidade fisiológica de sementes

Para promover a longevidade, é necessário considerar tanto os fatores internos (de aquisição) quanto os externos. Os mecanismos da longevidade são acumulados de forma progressiva ao longo da maturação das sementes e, por isso, o estádio de colheita é um fator determinante.

A colheita antecipada pode comprometer a longevidade das sementes, pois elas ainda não completaram totalmente o processo de maturação. Nesse estágio, as sementes ainda não adquiriram todos os compostos e mecanismos de proteção necessários para sua preservação.

Além disso, a antecipação da colheita aumenta a presença de sementes imaturas, que possuem menor vigor e longevidade, resultando em um lote com maior taxa de deterioração e menor potencial de sobrevivência ao longo do tempo. Por isso, deve-se ponderar o equilíbrio entre a aquisição e a deterioração, com o objetivo de produzir sementes com alto potencial de vigor e longevidade.

Relação entre germinação, vigor e longevidade na qualidade fisiológica de sementes

Em resumo, germinação, vigor e longevidade estão intrinsecamente correlacionados, mas nem sempre, ao se ter um, necessariamente se terá os outros. Por isso, vale lembrar:

• Toda semente pode embeber.
• Nem toda semente que embebe pode germinar.
Nem toda semente que germina, necessariamente será vigorosa.
Toda semente vigorosa apresenta germinação.
E, por fim, nem toda semente vigorosa, necessariamente será longeva.

Qualidade fisiológica de sementes e escolha da cultivar de soja

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