O papel da fisiologia vegetal na escolha de cultivares para cada região
A fisiologia vegetal é um ramo da biologia que permite o entendimento dos processos associados ao crescimento e desenvolvimento das plantas, bem como de como elas respondem ao ambiente.
No texto escrito pelo Prof. Edvaldo Aparecido Amaral da Silva, Professor Associado da UNESP-Botucatu-SP, que atua na área de fisiologia e produção de sementes, são apresentadas bases científicas que permitem compreender como as diferentes cultivares de soja se adaptam às condições ambientais específicas de cada região do Brasil. Esse conhecimento contribui para uma escolha mais assertiva a cada safra.
Confira alguns exemplos de aspectos estudados pela fisiologia vegetal que podem auxiliar na melhor escolha de cultivares de soja.
Adaptação ao clima e solo
• Tolerância à seca:
Em regiões com déficit hídrico, são preferíveis as cultivares com mecanismos que aumentam a eficiência no uso da água, como sistemas radiculares mais profundos e controle estomático eficiente, por meio da redução da condutância.
• Resposta à temperatura:
Algumas cultivares de soja podem tolerar temperaturas extremas — tanto altas quanto baixas — o que é benéfico, dependendo da região onde se irá plantar. A produção de sementes e grãos sob temperaturas elevadas, especialmente na fase de maturação, pode comprometer a qualidade das sementes e a quantidade de óleo produzido. Isso ocorre devido a alterações nas rotas de transferência de recursos da planta-mãe para as estruturas da semente.
Fotoperiodismo e floração: resposta ao fotoperíodo
A soja é uma planta sensível ao fotoperíodo — a relação entre luz e escuridão em um período de 24 horas. Essa característica exige um número mínimo de horas de luz para que algumas cultivares floresçam no momento adequado em cada região, garantindo que o ciclo da cultura esteja alinhado às condições climáticas locais.
Eficiência no uso de nutrientes
Cultivares que apresentam maior eficiência na absorção e utilização de nutrientes — incluindo os macronutrientes nitrogênio, fósforo e potássio — são essenciais em solos com baixa fertilidade natural, comuns em muitas áreas do Brasil.
Qualidade das sementes
Cultivares com aparato fisiológico que promovem resistência — como proteínas de choque térmico, ajuste osmótico e defesas antioxidantes — tendem a produzir sementes com maior germinação, vigor e longevidade.
Ciclo da planta
O escalonamento de cultivares, assim como o escapismo (ajustes) por parte de algumas espécies, são estratégias da fisiologia vegetal de produção que garantem a formação de sementes e grãos em condições climáticas favoráveis. Isso evita perdas causadas por déficit hídrico ou excesso de chuva durante o desenvolvimento e a colheita.
Resistência a estresses bióticos e abióticos
• Resistência a doenças e pragas:
Os mecanismos de defesa que garantem o funcionamento adequado da planta são estratégias fisiológicas que tornam indivíduos e cultivares mais eficientes contra patógenos e pragas. Com isso, reduz-se a necessidade de intervenções químicas — um fator essencial para processos produtivos mais sustentáveis.
• Tolerância a estresses abióticos:
Cultivares que toleram condições de estresse por toxicidade de alumínio, comuns em solos ácidos, são preferíveis em regiões onde esse fator está presente. A resistência ocorre devido a processos de complexação, imobilização e/ou quelação do metal, característicos dessas cultivares.
Fisiologia vegetal: base científica para decisões mais assertivas
Compreender os mecanismos fisiológicos das plantas é essencial para tomar decisões mais estratégicas e adaptadas às realidades de cada região. Por isso, a fisiologia vegetal é mais uma importante ferramenta de orientação para a escolha de cultivares mais eficientes, resilientes e produtivas, contribuindo para o aumento da rentabilidade em cada safra e para a sustentabilidade das lavouras.
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