Como escolher pontas de pulverização para otimizar resultados
As pontas de pulverização são um dos componentes dos bicos de pulverização, e o conhecimento a respeito do uso desses equipamentos é de suma importância na aplicação de defensivos agrícolas. Isso porque é esse domínio que assegura a correta quantidade e qualidade de aplicação do produto no alvo.
Entenda mais sobre esse assunto fundamental a partir deste artigo produzido por Roque de Carvalho Dias, Engenheiro Agrônomo, Doutor em Proteção de Plantas e Professor pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), e Grazielly Gomes de Oliveira, discente do curso de Agronomia da UFTM.
O objetivo é entender as particularidades e funcionalidades de cada tipo de ponta e, assim, identificar oportunidades de aprimorar a aplicação e melhorar os resultados no campo.
Acompanhe.
O papel das pontas de pulverização
As pontas de pulverização são responsáveis pela formação das gotas durante a aplicação e definem quatro fatores fundamentais para o ajuste correto da tecnologia de aplicação:
• O ângulo e o formato do jato de líquido;
• A vazão;
• O espectro de gotas;
• E o padrão de deposição.
Dessa forma, é crucial selecionar a ponta correta para assegurar que o produto alcance o objetivo de maneira efetiva, prevenindo perdas por deriva e sobreposição indesejada. Ademais, a utilização adequada das pontas de pulverização favorece a economia, diminuindo o desperdício de insumos e aprimorando o custo das operações.
Ângulo e formato das pontas de pulverização
O ângulo de aspersão nas pontas de energia hidráulica, geralmente, está compreendido entre 80º e 110º, podendo atingir valores entre 65º e 150º.
Já o formato do jato de pulverização depende do mecanismo de geração de gotas. Atualmente, existe uma grande gama de opções no mercado. Dentre os principais, destacam-se:
• Jato cônico cheio;
• Jato cônico vazio;
• Jato plano;
• Jato plano de baixa deriva com pré-orifício;
• Jato plano de impacto (defletor);
• Jato plano com indução de ar.
Jato cônico
A parte interna desse tipo de ponta é composta por um difusor e um orifício de saída de líquido circular denominado disco, que gera um jato de pulverização em formato cônico, permitindo diferenciar a forma do jato cônico cheio ou vazio. (Figura 1).
A deposição das gotas nas pontas de pulverização de jato cônico vazia concentra-se somente na periferia do cone. Em geral, essas pontas apresentam perfil de gotas muito finas e com grande capacidade de penetração e cobertura, contudo, com alto risco de deriva e evaporação.
Já a projeção do jato cônico cheio numa superfície plana caracteriza-se pela formação de um círculo com gotas depositadas em toda sua superfície. Essas pontas apresentam um tamanho de gotas um pouco maior, quando comparadas aos cônicos vazios.
Figura 1. Corte transversal e forma do padrão de deposição do líquido de ponta de jato cônico cheio e vazio. FONTE: ANDEF (2010).
Jato plano
As pontas de pulverização de jato plano são caracterizadas pela presença de um orifício de forma elíptica, em que o jato pulverizado tem um formato plano (Figura 2). O tamanho do orifício tem relação direta com a vazão e o seu formato com o ângulo do jato pulverizado.
As pontas jato plano simples podem ser subdivididas em jato plano comum, de faixa ampliada e jato plano duplo. De forma geral, são modelos mais populares, sendo consideradas como uma ponta de uso mais “comum” para diferentes tipos de situações.
Figura 2. Corte transversal e forma do padrão de deposição do líquido de ponta de jato plano. FONTE: ANDEF (2010).
Jato plano de baixa deriva com pré-orifício
A principal característica dessa ponta é um pré-orifício antes do orifício final de saída do líquido, que tem a função de reduzir a pressão do líquido e, como consequência, a diminuição do volume de gotas produzidas com diâmetros menores que 100 μm no espectro gerado.
Com isso, a redução dessa parcela de gotas tem relação direta com a diminuição do potencial de risco de deriva. Essas pontas de pulverização podem produzir espectros de gotas finas até muito grossas.
Jato plano de impacto (defletor)
Nessas pontas de pulverização de jato plano, o líquido é pulverizado por um orifício e choca-se em um anteparo, defletindo-se sob a forma de um jato plano (simples ou duplo). Produzem desde gotas finas a extremamente grossas.
Jato plano com indução de ar
As pontas de pulverização com indução de ar possuem uma entrada de ar e uma câmara na qual a calda é misturada ao ar por um sistema Venturi, proporcionando gotas maiores, com reduzido percentual de gotas abaixo do que 100 μm no espectro gerado.
É um dos modelos que geram o menor percentual de deriva entre as pontas de jato plano, sendo recomendados para herbicidas como, por exemplo, dicamba e 2,4-D.
Deve-se ressaltar que existem variações entre as pontas de pulverização dentro de cada família, as quais representam especificações técnicas de uso. Assim, para a seleção de ponta, deve ser considerado:
• O tipo de alvo;
• A cobertura necessária;
• A penetração da molécula;
• A taxa de aplicação;
• O espectro de gotas;
• A densidade de gotas necessárias no alvo;
• E o risco de deriva.
Vazão das pontas de pulverização
A vazão das pontas de pulverização depende de dois fatores: a pressão de trabalho e os formatos e dimensões dos orifícios das pontas de pulverização por onde passa a calda. A vazão é proporcional à raiz quadrada da pressão, logo, para dobrar a vazão devemos quadruplicar a pressão.
A maioria das pontas de pulverização disponíveis no mercado seguem um padrão de cores e números para a identificação de sua vazão nominal. Nessa identificação, o número representa a vazão da ponta em galões por minuto (1 galão = 3,785 L) pulverizando água na pressão de 276 kilopascal (kPa), o equivalente a 2,8 bar ou 40 libras por polegada quadrada (psi).
As cores e números que representam cada vazão estão descritas na Tabela 1. A norma que estabelece os critérios para essa classificação é a ISO 10625:2018. A cor de identificação da ponta pode estar destacada em toda peça ou parcialmente, e o número fica estampado no corpo da ponta, geralmente após o valor do ângulo de pulverização (Figura 3).
Tabela 1. Classificação de pontas de acordo com a vazão nominal (Adaptado da norma ISO 10625:2018).
* Na pressão de 276 kPa (40 psi), aplicando água.
Figura 3. Exemplo de ponta de pulverização, com as informações de modelo, marca, ângulo do jato pulverizado, vazão, material e fabricante.
Espectro de gotas
Para a maioria dos modelos de pontas de pulverização disponíveis no mercado, o processo de geração de gotas ocorre com a passagem do líquido sob pressão em um pequeno orifício de saída, com velocidade e energia suficientes para espalhar o líquido.
O espectro de gotas é medido através do Diâmetro Mediano Volumétrico (DMV), uma medida que representa o diâmetro das gotas, dividindo o volume pulverizado em duas partes iguais: metade do volume é constituído por gotas menores que o DMV e a outra metade por gotas maiores.
Como o volume das gotas grandes é maior que o de gotas pequenas, o DMV se aproxima do limite superior do diâmetro das gotas. O tamanho delas pode ser classificado em cores, conforme a Norma ASABE S572.1, e influencia em diferentes características.
Tabela 2. Classificação de tamanho de gota e código de cor conforme Norma ASABE S572.1, e características dos diferentes tamanhos de gotas.
O tamanho de gota influencia diretamente na cobertura de aplicação no alvo, ou seja, quanto menor o tamanho de gota, maior a cobertura no alvo (capacidade de molhamento), assim como também é maior o potencial de deriva.
Gota maior, por sua vez, possui menor cobertura (menor molhamento) da planta alvo e menor potencial de deriva. Porém, a possibilidade de perda através do escorrimento da calda é maior, afetando também a eficiência de aplicação.
Assim, a escolha do tamanho de gota para a pulverização deve ser feita de acordo com as condições climáticas e tipo de alvo, garantindo, assim, uma eficiência adequada.
Padrão de deposição
O padrão ou perfil de deposição da pulverização com equipamentos terrestres apresenta duas principais categorias: pontas de aplicação em área total e pontas de aplicação em faixa.
• Pontas de aplicação em área total: são pontas utilizadas em pulverizadores de barras, onde há sobreposição da aplicação, no mínimo 30%, podendo chegar a 100%. O padrão de deposição desses modelos é caracterizado por um formato triangular, em que há maior depósito na região alinhada com o centro da ponta, decrescendo para as extremidades. Assim, havendo a sobreposição entre pontas, a quantidade depositada ficará uniforme ao longo da faixa aplicada.
• Pontas de aplicação em faixa: esse padrão de deposição de pulverização das pontas é considerado uniforme, em que a quantidade de depósito nas laterais é semelhante ao depósito no centro. São recomendadas em casos para aplicações em faixas com uma única ponta, onde não ocorre a sobreposição dos jatos de outras pontas. Nesse caso, são usados em situações de aplicações realizadas na linha ou entrelinhas das culturas.
A escolha do perfil de deposição é fundamental na distribuição uniforme do produto aplicado. Assim, deve-se atentar caso a caso para a escolha correta. Dessa forma, a escolha de uma ponta de pulverização depende da forma do alvo, do tipo de produto, do tamanho da gota e volume de aplicação adequados e condições ambientais.
Vale lembrar que a seleção das pontas de pulverização também inclui a seleção do filtro adequado. Importante destacar também que a compreensão do cenário onde será realizada a pulverização, avaliando todas as variáveis, pode influenciar diretamente na tomada de decisão.
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