Como ocorre a ferrugem asiática na soja? Veja como controlar

Diagnosticada no Brasil em 2001, a ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é considerada a doença foliar mais importante da soja no país. De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o potencial de dano da doença varia entre 10% a 90% da produção.

Segundo o agrônomo e mestre em fitopatologia, Luís Henrique Carregal, apesar da ferrugem estar presente em todo o país, é no Sul que atualmente ela gera mais preocupações ao agricultor. “Nos dias de hoje, com o plantio sendo realizado cada vez mais cedo no Cerrado, a doença passou a ser mais importante na região Sul”, cita. 

Em adição a isso, as últimas safras foram marcantes para produtores dessa região, devido a fortes ocorrências da doença. Entretanto, isso não significa que elas se limitem apenas à região Sul. 

“Pensando na realidade atual do Cerrado, o cenário mais perigoso é quando o agricultor faz um plantio mais tardio, pois quanto mais cedo se plantar, menor o inóculo do fungo será, devido ao extenso período de vazio sanitário que precede a semeadura da soja”, menciona.

Como ocorre a infecção da ferrugem asiática?

Existem dois tipos de fungos: 

• Necrotróficos, que sobrevivem em restos culturais, como matéria orgânica no solo;
Biotróficos, como no caso de P. pachyrhizi, que se desenvolvem exclusivamente em tecidos vivos.

Ou seja, para o fungo da ferrugem asiática sobreviver, é necessário ter um hospedeiro vivo, como plantas voluntárias de soja, comumente conhecidas como “guaxas” ou “tigueras”. Uma vez que o fungo parasita aquele hospedeiro, ele se dissemina através do vento, que transporta os esporos a grandes distâncias.

Quando em contato com a superfície da folha, o fungo precisa de condições adequadas para dar início ao processo de infecção. “Esse é um esporo que necessita de muitas horas de molhamento foliar. Alguns estudos indicam cerca de 16 horas, enquanto outros apontam para mais de 24 horas, mas é bem claro que eu preciso de períodos prolongados de chuva ou orvalho para a infecção ocorrer”, afirma Carregal.

Além da umidade, o fungo da ferrugem asiática também se beneficia de temperaturas amenas, por volta dos 20 a 24 graus. “Quando essas condições coincidem, esse esporo germina, penetra no tecido foliar e os coloniza, completando seu ciclo e produzindo novos esporos”, explica. Esse ciclo tem duração média de 7 a 14 dias, a depender das condições climáticas.

“É importante para o agricultor entender que se trata de uma doença policíclica, ou seja, nós temos vários ciclos do fungo dentro de um ciclo da cultura. Por isso ela é tão agressiva”, pontua.

Potencial de dano da ferrugem asiática

Os prejuízos que a doença traz à lavoura podem variar, dependendo da fase em que o fungo infecta a planta e da intensidade dessa infecção. Entretanto, até mesmo mesmo em situações brandas, a doença pode gerar prejuízos relevantes. 

“Para a atual realidade de regiões do Cerrado, como o sudoeste goiano, quando temos ocorrência de ferrugem, geralmente ela traz uma perda mínima de 20%. Pensando em uma produção de 80 sacos por hectare, isso representa 16 sacos de prejuízo. Às vezes, esse é o lucro do agricultor”, ressalta.

O papel do vazio sanitário no controle da ferrugem

“Se ainda temos soja sendo plantada no Brasil, é por causa do vazio sanitário”, atesta Carregal, ao explicar a importância dessa medida para o controle da ferrugem asiática em território nacional.

O vazio sanitário da ferrugem nada mais é do que o período contínuo de 90 dias em que não se pode plantar – nem manter vivas – plantas de soja em qualquer fase de desenvolvimento. Dessa forma, anualmente, o Mapa estabelece o calendário de semeadura da cultura nas diferentes regiões sojícolas do país.

“Se o produtor fizer o vazio bem feito dentro da sua região, ele consegue baixar o inóculo e produzir bem a soja”, aponta. A lógica é simples: se há uma ponte verde, ou seja, um hospedeiro vivo para o fungo parasitar, ela precisa ser eliminada, pois ter o fungo na lavoura é gerar um problema maior para o próprio produtor controlar depois.

Conforme o gerente de desenvolvimento da GDM Seeds na M5, Maicon Rosin, para minimizar o surgimento de plantas voluntárias na lavoura, o agricultor deve se atentar à regulagem da colheitadeira. “Quanto mais sementes são jogadas no solo, mais plantas voluntárias de soja teremos”, acrescenta.

Junto a isso, deve haver um monitoramento dessas plantas que sobraram, seguido pelo controle – químico ou mecânico – quando necessário. Em algumas regiões do Brasil, a geada pode atuar como um controle natural.

Neste post sobre vazio sanitário no blog da DONMARIO, especialistas também compartilham mais detalhes sobre a importância dessa medida para o controle da ferrugem asiática. 

Outras medidas de manejo

Dentro das medidas integradas de manejo da doença, o vazio sanitário se destaca como a principal. Entretanto, algumas outras também possuem importância. É o caso da escolha da época de semeadura, do controle químico por meio de fungicidas e do uso de cultivares resistentes à doença:

• Escolha da época de semeadura: “Quanto mais cedo o produtor plantar a soja dentro de sua região, melhor. Unido a isso, variedades de ciclo curto auxiliam o agricultor, pois aumentamos a chance de trabalhar com o menor nível de inóculo possível”, aponta Carregal.
• Controle químico através de fungicidas: A P. pachyrhizi apresenta resistência aos três principais grupos químicos utilizados: os triazóis, as carboxamidas e as estrobilurinas. Dessa forma, a estratégia é associar fungicidas multissítios junto aos fungicidas tradicionais. “Nesse caso, a melhor recomendação é a realização de aplicações preventivas na lavoura”, pontua.
• Uso de cultivares resistentes à ferrugem asiática: “Num cenário em que o produtor tenha que atrasar uma aplicação de fungicida, seja por condição climática ou problemas com maquinário, uma cultivar com resistência traz uma tolerância muito maior à doença em relação a materiais que não apresentem essa característica”, assinala o gerente de desenvolvimento da GDM Seeds na M1, Marcos Longaretti.

No portfólio da DONMARIO, a principal variedade com esse perfil atualmente é DM56I59RSF IPRO, adaptada, sobretudo, para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e regiões frias do Paraná. Aliado a esse diferencial genético, a cultivar também apresenta um alto teto produtivo e ótima estabilidade no campo.

Saiba mais sobre as características agronômicas, pontos fortes e pacote sanitário da DM56I59RSF IPRO. 

Contexto da ferrugem asiática na safra 2024/25

De acordo com Longaretti, a Região Sul do país vem registrando uma pressão de ferrugem asiática abaixo da média, comparado às últimas safras. “Temos até agora, de forma geral, um estresse hídrico que vem afetando essa região e contribuindo para que a doença não avance”, menciona.

Em contrapartida, as condições hídricas para a cultura da soja têm sido adequadas na maior parte das regiões Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste. E apesar do registro de algumas ocorrências da doença nesses locais, ela não tem gerado problemas relevantes, de forma geral até o momento.

“Principalmente em regiões em que a ferrugem asiática não tem aparecido com intensidade nos últimos anos, é muito importante deixar claro para o agricultor que ele precisa continuar levando a doença a sério, respeitando o vazio sanitário e as demais estratégias de manejo”, pontua Carregal.

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