Densidade ideal: dicas para regular a semeadora de soja
Valter Balestrin – Sup. Téc. de Desenvolvimento
A população de plantas é um dos fatores mais importantes para assegurar a alta produtividade da lavoura. Um equívoco durante a implantação da cultura pode gerar inúmeras dores de cabeças, sobretudo perdas no rendimento da lavoura. Neste texto, vamos conferir como regular a semeadora de soja de acordo com a qualidade fisiológica das sementes.
Podemos dizer que um dos aspectos mais importantes da semeadura é o estande de planta, quando acima do recomendado, pode gerar um ambiente desfavorável para a soja, propiciando a ocorrência de doenças, aumentando a probabilidade de acamamento, gerando competição intraespecífica e ainda encarecendo os custos de implantação. Já densidades inferiores às recomendadas podem causar tantos problemas quanto, favorecendo a ocorrência de falhas, permitindo que plantas daninhas se desenvolvam mais facilmente e resultando em perdas de produtividade.
O estande de plantas é obtido pela combinação do número de sementes por metro linear com o espaçamento entre linhas da cultura, isso tudo, levando em consideração a qualidade fisiológica das sementes. Essa qualidade é caracterizada pela germinação e vigor, sendo estes fatores importantes para corrigir a população de plantas a ser semeada. Esta correção é fundamental, dado que nem todas as sementes irão germinar.
Para aproveitarmos as sementes de alta qualidade, devemos distribuí-las em espaçamentos e profundidades iguais. Muito mais de que uma boa máquina, isso depende de uma boa regulagem e das condições de semeadura. A relação entre qualidade de semente e a definição do estande correto é proporcional, sempre que possuímos uma semente de qualidade elevada temos maior facilidade em estabelecer a lavoura.
Figura 1: À esquerda, plântulas provenientes de sementes com alta qualidade fisiológica, à direita, plântulas geradas por sementes de baixa qualidade.
Fonte: Sementes Adriana.
Se tivermos uma semente com 90% de germinação, podemos dizer que de cada 10 sementes, uma poderá não emergir, então, devemos corrigir este valor acrescentando uma semente adicional ao número planejado originalmente.
Abaixo, trouxemos algumas dicas que devem ser seguidas na definição da densidade de semeadura:
1) Número de plantas por metro
Neste cálculo, definiremos o número de sementes em um metro linear.
Para isso, necessitamos da densidade de plantas por hectare almejada e do espaçamento entrelinhas da semeadora (m).
EX:
2) Número de sementes por metro
Neste cálculo, definiremos o número de sementes que efetivamente você deverá semear para alcançar o número de plantas que definimos no cálculo anterior, aqui, consideramos e corrigimos as perdas de acordo com a germinação das sementes.
EX:
Obs.: para condições ideais de semeadura, é possível utilizar a média entre a germinação e o vigor das sementes quando o vigor está acima de 80%. Para a tomada de decisão, é importante consultar um Engenheiro Agrônomo para avaliar a relação entre a qualidade fisiológica das sementes e a condição de semeadura.
Já definido o número de sementes a serem semeadas no metro, o próximo passo é ajustar a semeadora para distribuir o número desejado de sementes. Na semeadora, devemos nos atentar para duas informações importantes. O número de furos do disco e a relação entre as engrenagens motora e movida.
Geralmente, as semeadoras estão equipadas de fábrica com uma tabela que especifica a relação entre as engrenagens motora e movida, e o número de furos nos discos que irão permitir atingir o número de sementes que desejamos (Figura 2), devemos colocar as correntes nas relações informadas. Lembrando que sempre devemos conferir e realizar a contagem no momento da semeadura para nos certificarmos que a densidade informada coincida com a real.
Figura 2: Tabela de distribuição e regulagem de sementes
Caso a semeadora não possua tabela de distribuição, podemos realizar um processo de regulagem por tentativa e erro.
Para a calibração, devemos andar com a semeadora por um trajeto definido e coletarmos as sementes desse trajeto. Dividindo o número de sementes coletadas pela distância que foi percorrida, desta maneira, teremos o número de sementes por metro.
EX:
Caso este número ainda não seja o adequado para a semeadura, devemos mudar a relação nas engrenagens e repetir o processo até chegarmos próximo ao valor desejado.
Para auxiliar, podemos utilizar alguns princípios básicos de mecânica que são ilustrados na figura 3. Para toda relação entre engrenagens movida e motora, temos um índice, logo, não precisamos utilizar o método de tentativa e erro como um método de “sorte” para chegarmos ao valor, mas, sim, uma aproximação com alguns processos lógicos.
EX:
Tabela 1: Relação entre engrenagens motora e movida
Figura 3: Ampliação e redução na transmissão
Fonte: CASER, N. I.; SERAPHIM, S.K.C.
Conforme ilustrados na tabela 1 e na figura 3, sempre que aumentarmos a relação entre motora e movida, obteremos um número maior de sementes, podemos fazer este acréscimo tanto aumentando o número de dentes da engrenagem motora, quanto diminuindo o tamanho da movida e vice-versa.
Como vimos, vários fatores determinam o bom estabelecimento de uma lavoura, e de uma maneira ou outra estão interligados, saber gerir e trabalhar fazendo com que todos estes fatores operem juntos é indispensável para alcançarmos a máxima produtividade.
Referências
CASER, I. N; SERAPHIM, S. K. C. Projeto de caixa de redução de velocidade por correia sincronizadora para veículo baja SAE. 60f, Engenharia Mecânica, Vitoria/ES 2014
KRZYZANOWSKI et al. A alta qualidade da semente de soja: fator importante para a produção da cultura, Circular técnica. EMBRAPA, Londrina – PR, 2018
MENDES, Luis Gustavo. Cálculo de semeadura da soja: 5 passos para a população de plantas ideal no seu sistema. Disponível em: https://blog.aegro.com.br/calculo-de-semeadura-soja/ Acesso em: 19/06/2020
NETO, José de Barros França. Vigor da semente e o seu desempenho fisiológico e agronômico. EMBRAPA SOJA, Londrina – PR