Nematoides da soja: o que são e como afetam a produtividade da safra
Entre os fatores que podem afetar a produtividade de uma lavoura, os nematoides da soja preocupam produtores de todas as regiões. Esses organismos, que muitas vezes passam despercebidos aos nossos olhos e podem ser confundidos com outras deficiências na cultura, precisam ser observados com mais atenção.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), os prejuízos causados pelos nematoides nas plantações chegam a R$35 bilhões ao agronegócio por ano. Para esclarecer os perigos desta ameaça, entrevistamos a Gerente de Sanidade do Grupo GDM Seeds, Neucimara Rodrigues Ribeiro.
A nematologista explica que esta perda se dá por safra, o que significa que a cada dez safras no Brasil, uma é perdida por conta desses fitoparasitas. “Estima-se que a perda de produtividade devido a nematoide no Sul seja por volta de 4,5%. E, no Cerrado, de 5,6%”, afirma.
Os nematoides da soja habitam o solo e não são observáveis a olho nu. Sua distribuição, muitas vezes, não é uniforme, o que acaba formando as famosas reboleiras. Ao se alimentarem ou ao penetrarem e se movimentarem nos tecidos das plantas, causam danos à sua saúde.
Neucimara reitera: “eles acabam afetando muito o fluxo de absorção e translocação de águas e nutrientes e, com isso, eles vão causando perdas na produtividade. Mas, essas perdas, elas variam muito dependendo da suscetibilidade da cultivar e do nível populacional presente na área”.
Além de causarem danos diretos, os nematoides da soja são uma porta de entrada para outras complicações que podem atingir a safra. “Eles acabam modificando toda a rizosfera da planta. Atuam também como vetores de viroses, bactérias e fungos, induzindo toda uma alteração fisiológica da planta”, alerta a gerente sobre seus danos indiretos.
Com sintomas que se assemelham a outros problemas na fisiologia da planta, como deficiência nutricional e estresse hídrico, a falta de investigação pode prejudicar o negócio como um todo.
“O que não se pode fazer é um diagnóstico visual. O mais importante é coletar as amostras de forma correta, conforme as recomendações técnicas, e enviar isso para um bom laboratório para fazer realmente as análises”.
Neucimara ainda completa: “para você identificar um nematoide, você tem que saber taxonomia, então, tem que ser o nematologista à frente disso para fazer uma boa identificação. E a importância disso é: se você não tiver essa informação precisa de qual espécie, de qual raça e qual é o nível populacional, não tem como você organizar o seu manejo”.
Quando vamos mais a fundo nas condições externas que favorecem a presença destes organismos no campo, nos deparamos com diversos aspectos que influenciam, também, na ocorrência desta ameaça e nos danos que causam.
“A intensidade do dano ela não está associada apenas na concentração e na patogenicidade do nematoide. Ele está muito relacionado, também, com a suscetibilidade da planta ou da cultivar que está sendo ali colocada e algumas características como, por exemplo, de fertilidade, química, física e biológica do solo. Isso, sim, vai influenciar na sobrevivência, na reprodução e na patogenicidade desse nematoide”, afirma a especialista.
Existem diferentes tipos de nematoides da soja, que afetam a cultura de maneiras diferentes. Neucimara aponta algumas características que ajudam a identificar as espécies:
“No nematoide de cisto, você vai observar as fêmeas de cisto presas ali na raiz. Elas são umas bolinhas bem branquinhas, bem pequenininhas mesmo, minúsculas. Às vezes, pode até ser confundida com grãozinho de areia. Mas, o técnico que está à frente no campo, ele é capaz de reconhecer. Já o nematoide de galha, aparece na raiz, que engrossa como se fosse um tumor e forma, então, as galhas. Quando a pessoa não tem muita experiência, ela pode chegar no campo, olhar e verificar os rizóbios e os confundir com galha. Tem, também, o nematoide Pratylenchus. Ele vai causar um enegrecimento da raiz, que fica bem escurecida. A raiz principal vai se perder, dependendo do nível populacional, ela vai apodrecer todinha e, ainda, a planta vai emitir um monte de radicelas. O nematoide Rotylenchulus é um pouco mais difícil de se imaginar que talvez possa ser o nematoide, porque, muitas vezes, confundem seus sintomas com deficiência nutricional ou a compactação. Então, às vezes, demora um pouco mais para perceber que há um nematoide”.
Contar com cultivares resistentes pode ser uma ótima opção quando associada a outras técnicas de controle que minimizam as perdas causadas pelo aparecimento dos fitoparasitas. “Para controlar o nematoide, a gente precisa pensar num conjunto de ferramentas. A medida mais fácil, de fácil aceitação, que o produtor adora, normalmente, são cultivares resistentes. Por que? Porque é uma maneira sustentável. O produtor não precisa mexer em nada”, complementa.
As estratégias de manejo buscam evitar ao máximo o surgimento destes organismos no solo. “Você tem que usar a resistência genética, você tem que fazer o controle químico, o controle biológico, a rotação de culturas, cuidar da fertilidade do solo e nutrição e sempre monitorar”, reitera.
Porém, após o aparecimento dos nematoides no campo, não é mais possível extinguir a sua presença. “Uma vez que ele se instalou, isso não se erradica, tem que aprender a conviver com ele”, sobressalta a nematologista.
Para finalizar a conversa, Neucimara Rodrigues destaca a importância do tema: “O produtor deve ficar atento às áreas que ele desconfia. Se começou a baixar produtividade de alguma forma, ir investigar o que está acontecendo. Realmente, dar e buscar treinamentos.
Hoje, existem muitas instituições que treinam, também tem muita coisa na internet para aprender a trabalhar com nematoide. Também é preciso lembrar que a melhor e mais eficiente estratégia de controle é o manejo integrado, desde começar com a correta identificação dos nematoides e unindo, assim, um método de controle que visa minimizar as perdas e retomar a produtividade”, conclui.