Classificação da qualidade da soja: critérios usados e impactos na comercialização
Ao contrário do que muitos produtores podem pensar, a safra de soja não se encerra com a colheita. Muitos detalhes são fundamentais de serem planejados e seguidos no pós-colheita. É o caso, por exemplo, dos processos de limpeza, aeração, secagem e armazenamento dos grãos, entre outros. E para garantir que os grãos recém-colhidos estejam dentro dos parâmetros desejados pela indústria compradora, é de suma importância a atenção à classificação de qualidade dos grãos de soja.
Estabelecidos pela Instrução Normativa (IN) 11/2007, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), esses parâmetros buscam “definir o padrão oficial de classificação da soja, considerando os seus requisitos de identidade e qualidade intrínseca e extrínseca, de amostragem e de marcação ou rotulagem”.
Confira as etapas de classificação da soja, os critérios e como isso impacta a comercialização dos grãos.
Etapas da classificação da soja
Após a colheita da lavoura, algumas etapas são realizadas para definir a classificação da soja. A primeira delas é a calagem, que consiste na retirada de amostras do caminhão. A depender do tamanho do lote, a legislação define um número mínimo de pontos de coleta dessas amostras. Retirada de amostras do lote conforme as regras abaixo:
Até 15 toneladas | Mínimo de 5 pontos a serem amostrados |
Mais de 15 e até 30 toneladas | Mínimo de 8 pontos a serem amostrados |
Mais de 30 toneladas | Mínimo de 11 pontos a serem amostrados |
Após a calagem, é feito o armazenamento, etapa em que os grãos são encaminhados para uma estrutura apropriada, como silo ou armazém. Neste local, é realizado o quarteamento, que divide a amostra em partes iguais para a realização de análises mais precisas.
Em seguida, através de uma peneira, é feita a remoção de matérias estranhas e impurezas. Após, é realizada a determinação da umidade do grão e, na sequência, a determinação dos grãos avariados.
Categorias da soja
Para classificar a soja, diversos padrões são utilizados. Eles, por sua vez, podem variar conforme o grupo em que aquele grão está categorizado. De acordo com o Mapa, existem dois principais grupos de soja:
Grupo I: Destinado ao consumo in natura, sem passar por processamentos.
Grupo II: Utilizado para outros usos, como ração animal, farelo ou óleo.
Conforme a coloração do grão, a soja também será separada em duas classes:
Classe amarela: Contém grãos de tegumento amarelo, verde ou pérola e interior amarelado ou esbranquiçado (tolerância de até 10% de outras cores).
Classe misturada: Soja que não se enquadra na classe amarela.
Critérios utilizados
Cinco fatores são levados em consideração na hora de categorizar a qualidade do grão de soja. São eles os teores de umidade, impurezas e matérias estranhas, esverdeados, avariados total e quebrados e amassados.
Umidade
Um dos fatores mais importantes para determinar a qualidade da soja é seu teor de umidade. Ele influencia a conservação e o armazenamento dos grãos, podendo dificultar o processo de secagem e trazer danos ao produto.
Segundo a IN, a recomendação é que o teor de umidade não ultrapasse a taxa de 14%. Na prática, caso os grãos excedam esse valor, descontos podem ser aplicados.
Impurezas e matérias estranhas
Esse critério diz respeito a qualquer material inerte, como palha, pedras e outros resíduos, que esteja presente junto aos grãos de soja, uma vez que eles podem comprometer a eficiência do produto final.
A retirada desses materiais e impurezas é feita através do uso de peneiras. A quantidade máxima permitida é de 1%.
Esverdeados
São grãos que não completaram a maturidade fisiológica e, assim, possuem coloração totalmente esverdeada no cotilédone. O percentual aceitável é de até 8%.
Avariados total
Esse fator se refere a grãos que possuem algum tipo de dano, como grãos queimados, ardidos, mofados, fermentados, germinados, danificados, imaturos e/ou chochos, segundo a legislação.
Esses defeitos podem ter impacto direto nas características do produto final, como a perda de qualidade do óleo de soja, por exemplo. O teor máximo é de 8%.
Quebrados e amassados
Caso seja constatada a olho nu uma grande presença de grãos quebrados ou amassados, a avaliação pode ser realizada. Nela, o percentual máximo considerado desses grãos é de 30%.
Critérios para soja dos grupos I e II
Confira duas tabelas resumindo os critérios acima para os grãos de soja do grupo I, que são divididos em dois tipos, e do grupo II, categorizados em um tipo (padrão básico).
Limites máximos de tolerância, expressos em porcentagem, para a soja do Grupo I:
Tipo |
Avariados Total de Ardidos e Queimados | Máximo de Queimados | Mofados | Total (1) | Esverdeados | Partidos Quebrados e Amassados |
Matérias Estranhas e Impurezas |
1 | 1,0 | 0,3 | 0,5 | 4,0 | 2,0 | 8,0 | 1,0 |
2 | 2,0 | 1,0 | 1,5 | 6,0 | 4,0 | 15,0 | 1,0 |
(1) A soma de queimados, ardidos, mofados, fermentados, germinados, danificados, imaturos e chochos. |
Limites máximos de tolerância, expressos em porcentagem, para a soja do Grupo II:
Tipo |
Avariados Total de Ardidos e Queimados | Máximo de Queimados | Mofados | Total (1) | Esverdeados | Partidos Quebrados e Amassados |
Matérias Estranhas e Impurezas |
Padrão básico | 4,0 | 1,0 | 6,0 | 8,0 | 8,0 | 30,0 | 1,0 |
(1) A soma de queimados, ardidos, mofados, fermentados, germinados, danificados, imaturos e chochos. |
Impactos na comercialização
Os processos de classificação da qualidade dos grãos de soja padronizam o produto enquanto commodity. Isso, por sua vez, tem efeitos diretos no valor do produto no mercado e na facilidade de negociação com os agentes compradores.
Dessa forma, conhecer esses processos pode ser a diferença para o agricultor obter a máxima rentabilidade possível na safra.