Palavra do agrônomo: saiba tudo sobre a ferrugem asiática
Confira a entrevista da DONMARIO com o Engenheiro Agrônomo Prof. Dr. Thiago Zanoni Bagio sobre uma das principais doenças que afetam a cultura de soja: a ferrugem asiática
Os prejuízos causados pela ferrugem asiática nas lavouras de soja no Brasil têm alcançado números expressivos. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a doença é considerada a de maior impacto na cultura e todas as regiões produtoras são suscetíveis à ferrugem. Ainda de acordo com a Embrapa, as perdas em produtividade devido à doença podem ir de 30 a 90%. A estimativa é de que os gastos com a aplicação de fungicidas de controle atinjam cerca de US$ 2,2 bilhões, anualmente.
Considerando este panorama, o Blog DONMARIO entrevistou o Engenheiro Agrônomo Prof. Dr. Thiago Zanoni Bagio, para falar sobre a doença e ajudar o produtor a entender melhor o cenário da ferrugem asiática no Brasil.
Blog DONMARIO: Quais condições favorecem a ocorrência de ferrugem asiática na lavoura de soja?
Thiago Zanoni Bagio: Em fitopatologia (ciência que estudas as doenças das plantas), sabemos que são necessários três fatores básicos para que ocorra doenças em plantas e são eles: o patógeno capaz de causar a infecção, a planta suscetível e um ambiente favorável. É o famoso triângulo da doença. Diga-se de passagem, o homem interfere em todos estes. O ambiente é o ponto crítico para o desenvolvimento das doenças, no caso da ferrugem asiática da soja, temperatura entre 18 ⁰C e 26 ⁰C, aliada a um molhamento foliar de no mínimo de 6h, com ideal de 12 a 14h, são condições ótimas para que ocorra a doença. Lembrando que todos os fatores interagem entre si e podemos ter situações de cultivares resistentes/tolerantes, espaçamentos que proporcionam maior ou menor molhamento foliar, idade dos tecidos da planta, viabilidade dos esporos do fungo que estão no ar, etc.
BD: Existem práticas de manejo que podem auxiliar no controle preventivo da doença? Quais?
TZB: Sim. Existem práticas de manejo que auxiliam no controle, bem como fazem parte das boas práticas agrícolas e também compõem o manejo da ferrugem asiática da soja. Inicialmente, é importante lembrar que o vazio sanitário da soja, instituído por meio de instrução normativa em 2007 (Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja – PNCFS), é uma das mais importantes ferramentas para o manejo da ferrugem asiática da soja, pois tem o objetivo de reduzir o inóculo inicial do patógeno, aquele responsável por dar início ao processo de infecção nas lavouras comerciais e, assim, iniciar uma epidemia. Com o vazio sanitário bem feito, a doença se inicia mais tarde e dessa forma temos tempo para conduzir a safra com mais tranquilidade até o surgimento dos primeiros focos. O vazio sanitário da soja é obrigação de todos inseridos no setor, beneficiando toda a cadeia produtiva, principalmente o produtor. Em seguida, podemos citar a “semeadura antecipada”, ou seja, a semeadura da soja no início da janela legal. Esta prática proporciona um escape em relação à doença, ou seja, associado ao vazio sanitário, quem semeia cedo passa mais tempo sem ferrugem, podendo reduzir os custos com fungicidas e também garantindo mais folhas saudáveis para o enchimento dos grãos de soja. A escolha de cultivares com ciclo mais rápidos também é uma estratégia para “fugir” da ferrugem. Seu princípio é semelhante ao da semeadura antecipada, mas está relacionado ao tempo que a planta permanece no campo, suscetível ao ataque do patógeno. Nesse caso, é preciso escolher cultivares adaptadas à região de cultivo e que tenham boa capacidade produtiva, adequando assim às necessidades de cada propriedade. Outra prática ainda pouco utilizada, mas em crescente adoção por alguns produtores, é a utilização de maiores espaçamentos entre linhas de cultivo, que auxiliam no controle da ferrugem basicamente de duas formas distintas, a primeira é alterando o microclima favorável ao patógeno, proporcionado pelos espaçamentos mais adensados; o segundo está relacionado à melhor deposição dos fungicidas nas partes inferiores das plantas, tendo maior cobertura das plantas e melhor aproveitamento deste insumo nos espaçamentos maiores. E, por último, a utilização de fungicidas preventivamente, utilizando moléculas eficientes associadas a produtos multi sítios para reduzir assim a pressão de seleção para populações de patógenos insensíveis aos fungicidas sítios específicos. Cito estas como algumas das principais medidas de manejo que podem ser utilizadas, entretanto, é importante o planejamento prévio destas atividades, sempre sob a consulta de profissionais qualificados.
BD: Quais são as perspectivas de ocorrência da doença na safra 2018/2019?
TZB: Até agora as perspectivas não são muito boas para o produtor. Dados do consórcio antiferrugem, coordenado pela Embrapa Soja, mostram em torno de 94 ocorrências em áreas comerciais da safra 2018-19, todas em estados muito importantes na produção de soja, como o Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Ainda tem relatos em unidades de alerta no estado do Mato Grosso, além de casos de sojas voluntárias infectadas e distribuídas em grande parte da região produtora nacional (reflexo de um vazio sanitário talvez pouco priorizado). Relatos de colegas vizinhos paraguaios também não são bons. As previsões de El Niño, mesmo fraco, para os próximos meses, coloca um cenário com condições muito favoráveis para ocorrência da ferrugem asiática nas principais regiões produtoras de soja do país. Os produtores devem ficar atentos aos focos de ferrugem nas suas regiões, às condições do clima e ao estádio de desenvolvimento de suas plantas, para poder fazer um bom manejo preventivo e garantir sua safra.
BD: Já foram registrados focos da doença nas principais regiões produtoras de soja no brasil (sul e cerrado)?
TZB: Sim. Foram relatados focos da doença em áreas comerciais, unidades de monitoramento e alerta e também em plantas voluntárias. Isso é preocupante e exige muita atenção ao técnicos e produtores de todas as regiões.
BD: A doença tem se tornado resistente a diversos tipos de fungicidas. Quais seriam, então, as melhores recomendações de manejo para realizar o controle químico da ferrugem?
TZB: A insensibilidade do fungo Phakopsora pachyrhizi, agente causal da ferrugem asiática da soja, foi oficialmente relatada para os três principais grupos químicos de fungicidas que temos disponíveis no Brasil para o controle de ferrugem asiática, que são os triazois, estrubirulinas e carboxamidas. Nessa situação, a recomendação é a utilização de fungicidas sempre de maneira preventiva, para evitar a pressão de seleção a indivíduos resistentes; utilização de produtos com misturas duplas ou triplas, com ingredientes ativos de diferentes modos de ação contra o patógeno, sempre utilizando adicionando ingredientes ativos multisítios, que possuem baixo risco de seleção de indivíduos resistentes; fazer rotação de ingredientes ativos entre as aplicações, utilizar doses recomendadas pelo fabricante, respeitar o intervalo entre as aplicações e também utilizar equipamento de pulverização bem calibrado e ajustado adequadamente para uma boa cobertura de todas as partes da planta; respeitar o calendário de semeadura de seu estado, não realizando semeadura de soja “safrinha”, a partir de janeiro de 2019, evitando assim a aplicação de produtos sob condições de alta pressão de doença nas plantas.
BD: De que maneira a tecnologia, por meio de ferramentas da agricultura de precisão e da agricultura 4.0, pode se aliar ao produtor no combate à doença?
TZB: A utilização da tecnologia na agricultura vem somando em todos os aspectos. Uso de máquinas mais precisas e também mais rápidas podem auxiliar o produtor na hora de fazer as aplicações no momento correto e necessário, com a eficiência cada vez maior. A gestão da propriedade também está mais ágil, pontos com falhas de aplicação ou aplicações em condições desfavoráveis serão cada vez menos frequentes e, agora, já podem ser monitoradas, graças à tecnologia, coisa que não era possível de se detectar, ao menos não antes de ver os danos no campo. O monitoramento de pragas e doenças gera dados georreferenciados, quase que em tempo real, isso agiliza a tomada de decisão, que é crucial. A melhor distribuição das plantas no terreno, com doses de nutrientes adequadas para cada planta também auxilia na formação de plantas mais saudáveis, mais produtivas com rápido desenvolvimento. A tecnologia ainda está evoluindo para auxiliar o produtor no combate de doenças de plantas, mas já faz muita diferença para aqueles que utilizam deste recurso.
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