Plantio de soja: tudo o que você precisa saber para realizar com eficiência
O período de plantio de soja exige uma série de cuidados por parte do produtor para que seja possível conquistar a melhor eficiência e produtividade.
Esse processo envolve análises e metodologias para assegurar condições como um bom preparo do solo, avaliação de clima, controle de pragas e muito mais.
Para trazer as recomendações técnicas mais efetivas para o plantio de soja, a Engenheira Agrônoma e Doutora em Produção e Tecnologia de Sementes, Ana Carolina Petronilio, desenvolveu este artigo exclusivo sobre o tema.
Confira a seguir e entenda cada etapa.
Atenção na semeadura durante o plantio de soja
Realizar a semeadura da soja sob condições climáticas e de solo específicas beneficia o estabelecimento inicial da cultura. Por isso, o produtor rural deve realizar o plantio de soja em épocas favoráveis à ocorrência de chuvas.
A semente, ao ser depositada no sulco de semeadura, precisa encontrar umidade para que ocorra a embebição (absorção de água pela semente) e, assim, inicie o processo germinativo.
Portanto, a semeadura na época das chuvas, aliada ao estoque de água no solo (evitar semear no seco), visa garantir o fornecimento de água necessário para a germinação das sementes e o bom desenvolvimento do estande inicial de plantas.
A semeadura em solo com baixa umidade pode atrasar e/ou prejudicar a germinação e, consequentemente, o estabelecimento do estande de plantas. O atraso ocorre porque a semente pode “esperar” a chuva para iniciar o processo germinativo.
Além disso, a ocorrência de um veranico após a semeadura pode prejudicar o processo germinativo no plantio de soja e, dependendo da intensidade do estresse, resultar em desuniformidade ou até mesmo falhas na emergência.
Solo úmido, mas jamais encharcado
No plantio de soja, o solo precisa conter umidade, mas não pode estar encharcado. O excesso de umidade pode dificultar as operações mecanizadas, com risco de atolamento de maquinário e compactação superficial do solo, além de favorecer o desenvolvimento de doenças na fase inicial do ciclo (Rhizoctonia sp., Pythium sp., Colletotrichum sp., Sclerotium rolfsii e Fusarium sp.).
Temperatura ideal
Outro fator importante no plantio de soja é a temperatura do solo, pois ela influencia na germinação da semente e no estabelecimento da lavoura. Temperaturas abaixo de 18°C após a semeadura podem retardar o processo germinativo, enquanto temperaturas acima de 35°C podem causar injúrias nas plântulas no momento da emergência, além de danos térmicos.
Preparação do solo
O preparo do solo na área de cultivo de soja, utilizando implementos como arados, escarificadores e subsoladores, deve ser realizado de forma racional e conforme a necessidade, considerando aspectos físicos e químicos do solo. É importante avaliar se o solo está compactado, apresenta baixa porosidade, o pH, a acidez e o teor de nutrientes.
O objetivo do preparo do solo no plantio de soja é favorecer o desenvolvimento das raízes da soja, aumentar a retenção de água e melhorar a disponibilidade de nutrientes para a cultura.
Uma vez que essas características estejam bem ajustadas, recomenda-se a adoção do sistema de cultivo mínimo ou plantio direto nas safras seguintes, no qual a semeadura ocorre sem o revolvimento do solo, com a rotação de culturas para a produção de palhada no sistema.
A importância do vazio sanitário no plantio de soja
Os produtores de soja devem respeitar um período de 90 dias ao ano sem a presença de plantas de soja (cultivadas ou espontâneas) em suas áreas, conhecido como vazio sanitário. Além disso, existe um calendário de semeadura estabelecido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
Essas medidas têm como objetivo diminuir o inóculo de pragas e doenças, especialmente a ferrugem asiática, para a safra seguinte, além de minimizar os riscos de desenvolvimento de resistência da ferrugem aos fungicidas, racionalizando seu uso. Assim, o produtor deve seguir a recomendação da janela de semeadura do MAPA, que varia de acordo com cada região do país.
Você pode saber mais sobre o vazio sanitário e calendário do MAPA para 2024 neste artigo.
Semeadura tardia
Para o plantio de soja é necessário programar com antecedência a compra de insumos, como fertilizantes, sementes e defensivos, assim como a manutenção dos implementos.
No entanto, diversos fatores relacionados ao planejamento da semeadura e à gestão da propriedade podem causar atrasos indesejados na semeadura, como condições climáticas desfavoráveis, como excesso de chuva ou seca.
Semeaduras mais tardias podem proporcionar condições ambientais menos favoráveis ao desenvolvimento da cultura, resultando em um desenvolvimento insatisfatório.
Nesse contexto, é possível que ocorram maiores problemas fitossanitários, devido ao aumento do risco de pragas e doenças, exigindo mais aplicações de produtos fitossanitários, o que pode reduzir a produtividade e o lucro do produtor.
Semeaduras tardias também podem afetar o planejamento da próxima cultura a ser implantada, gerando atrasos no cultivo subsequente.
Para mitigar os efeitos negativos de um plantio atrasado, algumas estratégias podem ser adotadas. Entre elas, destacam-se:
- A escolha de cultivares mais precoces, com maior rusticidade e tolerância a doenças e estresses de final de ciclo;
- O monitoramento intensivo de pragas e doenças;
- O fornecimento de irrigação suplementar,
- O uso de dessecantes para antecipar a colheita;
- E a realização de um planejamento para a rotação de culturas, considerando os atrasos desta safra para minimizar os impactos na produtividade da safra seguinte e a longo prazo.
Densidade
A distribuição uniforme das sementes no sulco de semeadura é fundamental para garantir o desenvolvimento homogêneo das plantas no plantio de soja.
Um estande de plantas bem distribuído espacialmente permite que cada uma delas expresse seu máximo potencial produtivo individualmente, contribuindo assim para a obtenção de altas produtividades.
Quando a semeadura é feita de forma desuniforme, podem ocorrer falhas de plantas ou a formação de aglomerados de plantas muito próximas entre si, as quais competirão por água, luz e nutrientes.
Isso resulta em um aproveitamento inadequado do espaço, o que pode reduzir a produtividade e aumentar as despesas com sementes.
A técnica de distribuição uniforme de sementes no sulco de semeadura é conhecida como “plantabilidade” e envolve o ajuste do espaçamento, da profundidade, do número de sementes distribuídas por área e da uniformidade de distribuição.
Já a densidade de plantio de soja corresponde ao número de plantas por unidade de área e é fundamental na definição do potencial produtivo de uma lavoura.
Alta ou baixa densidade: o que é melhor?
Quando a densidade de plantas é alta, pode ocorrer maior competição entre as plantas por água, luz e nutrientes. Com essa competição, as plantas se desenvolvem abaixo do ideal, resultando em menor desenvolvimento de ramos laterais e menor peso de grãos, o que afeta a produtividade. Densidades altas também levam a um menor aproveitamento dos recursos investidos, como sementes, adubo e defensivos.
Por outro lado, densidades mais altas podem favorecer um melhor aproveitamento da luz solar por unidade de área. Entretanto, deve haver um equilíbrio, pois, se o adensamento do dossel for muito intenso, a interceptação luminosa nas folhas inferiores pode ser impedida, reduzindo a eficiência fotossintética e afetando a conversão na produção de grãos. O adensamento também pode favorecer o desenvolvimento de doenças fúngicas, o que pode reduzir a produtividade.
O uso de densidades menores, por sua vez, pode proporcionar um melhor aproveitamento dos recursos pela planta, permitindo um crescimento mais vigoroso e um aumento da produção por planta.
No entanto, deve-se estar atento ao risco de desperdício de espaço e menor aproveitamento dos recursos. Em casos de densidades muito baixas, pode não ocorrer o fechamento completo da área pelo dossel de plantas, o que permitirá o desenvolvimento de plantas daninhas, competindo com a cultura da soja e impactando negativamente a produtividade.
Quanto à incidência de doenças, densidades menores podem minimizar a disseminação, pois há mais circulação de ar entre as plantas, reduzindo a umidade. Portanto, a escolha da densidade depende do histórico e do clima da área, considerando os fatores descritos anteriormente.
Para assegurar a correta distribuição das sementes, o produtor precisa tomar algumas decisões antes da semeadura e realizar ajustes na plantadeira. É fundamental que o produtor estabeleça previamente a densidade e o espaçamento, de modo a fornecer água, luz e nutrientes de forma adequada para as plantas.
Essas decisões dependem de diversos fatores, como:
- As características da cultivar utilizada (grupo de maturação, porte e arquitetura das plantas);
- As condições do solo e da área (textura, porosidade, fertilidade e histórico de doenças);
- A região (regime de chuvas);
- E fatores operacionais (disponibilidade de implementos como plantadeiras, tratores e pulverizadores compatíveis com o espaçamento desejado).
De maneira geral, para a cultura da soja, recomenda-se utilizar um espaçamento de 40 a 50 cm entre plantas e uma população de 200 a 400 mil plantas por hectare.
Preparação dos maquinários
Definidos o espaçamento e a densidade de plantas desejados para o plantio de soja, é hora de realizar os ajustes na plantadeira.
Deve-se prestar atenção à escolha correta do disco e do anel de semeadura, para que eles se ajustem ao tamanho da semente (espessura e largura), evitando falhas ou sobreposição de sementes no orifício do disco.
Outro fator de extrema importância é o ajuste da profundidade de semeadura. Se a semeadura for muito profunda, pode haver atrasos e desuniformidade na emergência das plântulas; se for muito rasa, pode ocorrer a perda ou o arraste das sementes em uma possível chuva.
De maneira geral, para a cultura da soja, recomenda-se uma profundidade de 3 a 5 cm. A regulagem da profundidade é feita ajustando os carrinhos individuais da semeadora e a pressão das molas.
Todos os carrinhos e molas da semeadora devem estar no mesmo ajuste para garantir uniformidade na profundidade de semeadura em todas as linhas. É importante também verificar o estado e a regulagem do disco de corte ou das hastes sulcadoras (botinhas), peças essenciais para a abertura do sulco de semeadura e o corte da palhada no sistema de semeadura direta.
Outro fator importante para assegurar uma correta plantabilidade é a regulagem da distribuição do adubo, fundamental para o fornecimento de nutrientes nas primeiras fases de desenvolvimento da cultura. O adubo deve ser depositado abaixo ou ao lado da linha de deposição das sementes.
Com os ajustes da semeadora realizados, é necessário atentar-se também à velocidade da operação no momento da semeadura.
Para plantadeiras com dosadores pneumáticos, recomenda-se uma velocidade máxima de 8 km/h, enquanto para dosadores mecânicos, a velocidade deve ser de 4 a 6 km/h. Velocidades elevadas podem reduzir significativamente a precisão do mecanismo de distribuição de sementes e adubo, além de afetar a profundidade.
Com o aumento da velocidade, pode haver alteração no local de deposição das sementes, comprometendo o espaçamento ideal e ocasionando o acúmulo de sementes.
A profundidade de deposição das sementes também pode ser alterada; velocidades acima de 8 km/h levam a profundidades mais rasas, o que pode prejudicar o processo de germinação. De maneira geral, solos mais argilosos ou sob condições de maior umidade requerem velocidades menores para assegurar uma distribuição uniforme das sementes.
Para monitorar e ajustar a velocidade da operação, recomenda-se realizar um teste de velocidade em uma pequena área para garantir que a semeadora esteja distribuindo as sementes corretamente na velocidade desejada.
Além disso, o uso de sensores de monitoramento de plantio é uma ferramenta eficaz para fornecer informações em tempo real sobre possíveis falhas no plantio. Os operadores devem ser bem treinados e experientes para identificar potenciais problemas.
Controle de pragas
As principais pragas que afetam a soja durante a fase de semeadura e emergência são:
- Lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus);
- Bicudo ou tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus);
- Corós (várias espécies de besouros);
- E o percevejo castanho da raiz (Scaptocoris castanea).
A lagarta elasmo corta ou perfura o caule das plântulas de soja, o que pode reduzir o estande de plantas na lavoura. Essa praga é mais ativa em condições de seca e altas temperaturas. Para monitorar a lagarta elasmo, recomenda-se inspecionar a base das plantas, especialmente se houver plantas que morrem sem motivo aparente.
As larvas do bicudo ou tamanduá-da-soja brocam o caule das plantas jovens, formando galerias internas que podem até gerar galhas quando o ataque ocorre mais tardiamente. Portanto, deve-se estar atento ao murchamento das plântulas, fendas ou deformações no caule, queda de plantas ou à presença de insetos adultos da espécie.
Os corós atacam as raízes das plantas, o que pode resultar na morte de plantas jovens, geralmente em reboleira. Os primeiros sinais do ataque de coró são o aparecimento de plantas com desenvolvimento fraco, que podem ser facilmente arrancadas devido ao ataque da praga nas raízes. Recomenda-se inspecionar e cavar levemente o solo próximo às plantas em busca das larvas.
O percevejo castanho da raiz suga a seiva das raízes, o que afeta o rendimento da soja e pode levar à morte das plantas se o ataque ocorrer na fase inicial de desenvolvimento. Os primeiros sinais de infestação são murcha e amarelecimento das plântulas. Deve-se observar a presença de adultos sobre o solo e verificar se as raízes estão danificadas ou necrosadas.
Como medidas preventivas para minimizar a ocorrência dessas pragas no plantio de soja, recomenda-se realizar a rotação de culturas, utilizar cultivares resistentes, buscar alternativas de controle biológico e manejo integrado de pragas, usar inseticidas no tratamento de sementes, armadilhas e feromônios, além de eliminar plantas voluntárias na entressafra e plantas daninhas hospedeiras.
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