Defensivo Agrícola: Boas Práticas Tecnologia de Aplicação

 em Manejo Certo

Desde muito tempo, os agricultores brasileiros adotam práticas de manuseio e regulagem de pulverizadores utilizadas em culturas que necessitam do uso de defensivo agrícola, como a soja, dando origem ao conceito de tecnologia de aplicação.

A tecnologia de aplicação nada mais é do que um conjunto de conhecimentos que integram todas as informações sobre os produtos fitossanitários utilizados, como suas formulações, adjuvantes, pulverização, alvos, recursos humanos e informação do ambiente, visando uma aplicação correta, segura e responsável, respeitando as boas práticas agrícolas (Entendendo a Tecnologia de Aplicação, 2017).

Neste artigo, abordaremos os principais pontos para uma aplicação eficaz e eficiente que gere economia e sustentabilidade. Falaremos sobre: técnicas de redução de deriva (TRD), condições meteorológicas ideais para a prática, espectro e tamanho de gotas, alvos e coberturas, volume de calda, seleção de pontas de pulverização e limpeza do sistema de pulverização.

Existem vários parâmetros que podem interferir na aplicação e merecem ser avaliados, a fim de se atingir o máximo de desempenho com o mínimo de perdas e menor impacto ambiental.

Cobertura dos Alvos

A cobertura dos alvos é um dos parâmetros que devem ser observados no momento da aplicação de defensivos agrícolas, com destaque para o volume de calda e o tamanho das gotas. As condições meteorológicas, a recomendação dos produtos e as condições operacionais também são avaliadas neste momento, formando um conjunto de informações que definem a técnica a ser utilizada para se obter o melhor resultado.  Além disso, para melhorar a cobertura de uma aplicação, é preciso considerar o tipo de alvo que você quer atingir.

A cobertura ideal do alvo se deve à definição de tamanho de gota, volume de calda ideal e uso de adjuvantes para que o alvo possa ser atingido. A partir disto, os ajustes são feitos mediante escolha das pontas, pressão e variação de velocidade de deslocamento da máquina.

Em função de todos os parâmetros que devem ser considerados para que se atinja uma boa cobertura de aplicação, podemos dizer que não existe uma solução única ou uma metodologia ideal que atenda a todas as situações. É necessário que a tecnologia seja ajustada para cada condição de aplicação.

Volume de Calda

O volume de calda é outro fator importante e que está diretamente ligado ao ajuste do tamanho das gotas. A interação desses dois fatores define a qualidade da aplicação, que também está relacionada ao alvo que se quer atingir, ao princípio ativo, à formulação do produto a ser utilizado e às condições meteorológicas no momento da aplicação.

E qual o volume ideal?

Em função dos diversos fatores a serem analisados, não é possível definir um volume exato de calda ou que seja considerado ideal para todas as condições. No entanto, podemos fazer um exercício que pode ajudar nesta tomada de decisão.

Antes da aplicação, procure responder as seguintes perguntas:

  1. Qual alvo atingir?
  2. Qual produto utilizar?
  3. Qual o tamanho de gota ideal?
  4. Qual a disponibilidade operacional para aplicação?
  5. Quais as condições climáticas no momento da aplicação?
  6. Há vantagem em trabalhar com taxa de aplicação reduzida?
  7. Qual o comportamento do ingrediente ativo na calda? Quando concentrado em calda, qual sua eficiência? Como ele se comporta quando ocorre adição de outros ingredientes ativos?
  8. Qual a formulação do produto? WG, WP, SC etc., maior ou menor volume de água ajuda ou atrapalha na dissolução do produto concentrado?

Tamanho de Gota

Atrelado ao volume de calda está o tamanho de gota, que pode ser ajustado com a escolha da ponta, vazão e pressão correta. As gotas podem ser representadas em diferentes famílias ou séries, sendo cada uma direcionada para um fim mediante ponta escolhida:

  • Muito fina/fina – ponta jato cônico e jato plano duplo
  • Fina/média – ponta jato plano de uso ampliado (baixa ou alta pressão)
  • Média/grossa – ponta jato plano de baixa deriva com pré-orifício
  • Grossa/muito grossa – ponta jato com indução de ar “Venturi I e II”

No mercado, encontram-se disponíveis diversos modelos e marcas com diferentes atribuições. A escolha certa é essencial para que se obtenha o resultado desejado.

Deriva

A deriva é um dos maiores causadores de perdas no momento da aplicação de produtos fitossanitários. O controle de deriva está relacionado à escolha do tamanho de gotas adequada para aplicação de defensivos de acordo com as condições climáticas do local, principalmente a umidade relativa do ar.

As gotas de pulverização que se elevam ou se deslocam para fora da área de aplicação devem ser evitadas, pois para uma boa qualidade de aplicação é preciso que as gotas se desloquem lateralmente dentro da área de aplicação, melhorando, assim, a deposição e penetração da aplicação dentro da massa foliar. (MANUAL DE TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS – ANDEF)

A deriva pode ocorrer de três formas:  endoderiva, exoderiva e evaporação.

A endoderiva é a perda do produto dentro dos domínios da cultura (ex: escorrimento causado por excesso de calda ou gotas muito grandes); a exoderiva é a perda fora dos domínios da cultura (ex: gotas muito pequenas levadas pelo vento); e a evaporação consiste na perda das gotas pequenas em condições meteorológicas desfavoráveis (baixa umidade do ar, alta temperatura ambiente e alta velocidade do ar). As condições favoráveis para que não ocorra a evaporação serão abordadas na tabela 1.

Pode-se reduzir a deriva adequando-se ao melhor método de aplicação para cada situação, sendo muito importante a escolha correta do tamanho de gotas e atenção para que a aplicação seja realizada com condições climáticas adequadas.

Atrelado ao clima, o vento é uma intempérie que interfere diretamente na qualidade da aplicação, independentemente do tamanho das gotas produzidas pelas pontas de pulverização. A velocidade do vento no momento da aplicação interfere de maneira expressiva na prática. Este problema pode ser piorado quando se faz a aplicação em altas velocidades ou quando se faz a escolha de uma ponta de pulverização não recomendada.

Uma das técnicas de redução de deriva é a utilização de produtos formulados denominados adjuvantes. Estes produtos promovem uma melhora na tensão das gotas, podendo ajudar em sua descida, em sua adesão na superfície e no espalhamento no alvo. É válido ressaltar que a utilização do adjuvante deve seguir as recomendações corretas, pois em determinados casos ele não tem viabilidade com alguns tipos de pontas de pulverização.

Condições Meteorológicas para a Aplicação de Produtos Fitossanitários

De maneira geral, o início da manhã e o final de tarde são os melhores períodos para a aplicação, pois a umidade do ar é mais elevada e a temperatura é mais amena.

Leia Mais: O Manejo Ideal do Solo

Limpeza do sistema de pulverização      

A limpeza ou a descontaminação do sistema de pulverização pode ser feita de forma simples e eficiente utilizando os chamados limpa tanques. À base de surfactantes disponíveis no mercado, eles possuem características de ação desengordurante, desincrustaste e até mesmo desgaseificante. A utilização destes produtos deve ser realizada de acordo com a indicação contida na bula ou informações no rotulo da embalagem.

O passo a passo para realizar uma boa limpeza no sistema de pulverização deve considerar os seguintes pontos:

  1. Utilizar equipamento de proteção individual (EPIs);
  2. Utilizar água e o limpa tanque com os volumes recomendados pelo o fabricante, formando uma solução;
  3. Passar a solução por todo sistema deixando-o sair pelos bicos por 5 minutos, aproximadamente;
  4. Desmontar os componentes do tanque e barra de pulverização, tais como filtros e partes removíveis e deixar banhados em um recipiente com a solução para limpeza;
  5. Ligar o agitador de tanque para que a solução atinja todas as paredes;
  6. Realizar a limpeza das mangueiras e misturador, onde normalmente são feitas as pré-misturas;
  7. Após respeitar as instruções anteriores, liberar toda a solução pelo fundo de esgotamento do taque;
  8. Reabastecer o tanque com água limpa para enxague, e passar a mesma por todo o sistema liberando-a pelos bicos por 5 minutos;
  9. Finalizar liberando o restante da água pelo fundo de esgotamento do tanque.

Com estas ações, o seu pulverizador estará livre de qualquer tipo de contaminação por resíduos ou impurezas que possam interferir negativamente na boa prática de pulverização. Caso o produto químico utilizado tenha uma metodologia específica de limpeza e descontaminação, é recomendado seguir rigorosamente as instruções dadas pelo fornecedor.

A aplicação é uma operação agrícola que demanda muito cuidado e se resume a correta colocação do produto no alvo, na quantidade necessária, de forma econômica e com o mínimo de impacto ambiental.

 

REFERÊNCIAS

PRESOTO , Jéssica. Limpeza e descontaminação de tanque de pulverizadores. FITOTECNIA PLANTAS DANIHAS , [s. l.], ano 19, v. 1, n. 1, ed. 1, p. 1, JANEIRO 2019. Disponível em: https://blogagro.basf.com.br/limpeza-e-descontaminacao-de-tanque-de-pulverizadores-859/n. Acesso em: 21 ago. 2020.

ROCHA ANTUNIASSI, ULISSES et alENTENDENDO A TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO. CDD 23 .ED. (632.940284). ed. rev. e atual. BOTUCATU SP: FEPAF, 2017. 52 p. v. 1.

ANDEF – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE DEFESA VEGETAL COGAP – COMITÊ DE BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS (Manual de tecnologia de aplicação/ANDEF – associação Nacional de Defesa Vegetal. — Campinas. São Paulo: Linea Creativa, 2004.). MANUAL DE TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS. Tecnologia de Aplicação Produtos Fitossanitários, CAMPINAS SP, ano 10, v. 1, n. CDD: 630.2, ed. 1, p. 52, 2010. Disponível em: http://www.lpv.esalq.usp.br/sites/default/files/Leitura%20-%20Manual%20Tecnologia%20de%20Aplicacao.pdf. Acesso em: 21 ago. 2020.

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